quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A história secreta de mais um triunfo da nossa política externa

Sou do tempo em que a única coisa que pendia hacia la izquierda na Bolívia eram os aviões do Lloyd Aereo Boliviano. Aquilo era um país atrasado tocado por brancos corruptos exploradores de indígenas.

No começo do século passado, demos a eles dois milhões de libras (e um pedacinho do Mato Grosso) em troca do Acre. Depois, passamos cem anos sem reparar na Bolívia.

Até Evo chegar.

Desde que o líder cocaleiro se tornou presidente em 2005, a Bolívia desceu de 112º para 130º maior PIB per capita no mundo. Um êxito! Queda minúscula se vocês considerarem a herança maldita dos brancos.

É normal sacrificar-se um pouco de PIB na marcha ao socialismo. “Quando se cortam árvores, algumas lascas voam”, dizia Stalin. No final, tudo valerá a pena.

Evo pôs em marcha um corajoso programa de estatização que já devolveu ao povo boliviano o petróleo, o gás, o estanho, a metalurgia e a produção de cimento. Além dos serviços de água, luz e telefone.

Com tudo estatizado, a prosperidade é questão de tempo, mercê da vasta capacidade de investimento e gestão do Estado Plurinacional da Bolívia.

Naturalmente, esses notáveis avanços deram ao gigante andino espaço prioritário no Itamaraty.

O senador não era um assunto fácil. Havia dúvidas dignas daquelas equipes da ONU que buscam armas nucleares no Irã. Felizmente, já tínhamos um núcleo de assuntos bolivianos bem estruturado.

Estaria o governo de Evo perseguindo adversários? Difícil crer. Mas, pelas dúvidas, convinha conceder o asilo.

Seria Roger Pinto, por outro lado, apenas um empresário sonegador envolvido na chacina de uns agricultores? Provável. Nesse caso, melhor devolvê-lo a Evo.

Fria e profissional, a Casa de Rio Branco não se açodou, nem se comoveu com o fato do homem estar há mais de ano trancado na sala de telex da embaixada em La Paz. Paciente, o Itamaraty reuniu vasta inteligência em um trabalho minucioso e secreto. Deu até a impressão de descuido.

Tive acesso ao estarrecedor relatório final. O caso não é uma coisa nem outra, pelo contrário. Evo tem e não tem razão. Roger Pinto, idem. Ahmadinejad é citado, mas não tem nada a ver com a história. Muitas pessoas que você imagina que estariam envolvidas não são sequer mencionadas. Até a compra do Acre faz parte do enredo.

Mais não posso revelar. Permitam-me, porém, assegurar: o episódio pode até parecer uma lamentável perda de energia em torno de um país irrelevante, e que teria cobrado, inutilmente, a cabeça do chanceler Patriota.

Nada disso! Tudo seguiu uma lógica impecável e um planejamento escrupuloso. Levou exatamente aos resultados almejados.

O grande público pode não ter entendido direito, mas a vinda do senador boliviano para o Brasil foi mais um grande momento da diplomacia brasileira.

4 comentários:

  1. Grande Jaélio,

    Ao ler seu post, tão esclarecedor, fico com vontade de dizer sobre você o que a grande filósofa Marilena Chauí certa vez falou sobre nosso querido Lula: "Quando ele fala, tudo se ilumina!"

    Abraços bolivarianos, companheiro!

    ResponderExcluir
  2. Sonhei que o Brasil não suportava mais aquele senador há mais de um ano na embaixada reduzindo o superávit público e nem sabia porque havia concedido asilo. Evo não suportava mais posar de durão mas não tinha como voltar atrás na decisão tomada. Evo sugere que a embaixada tire o senador sem salvo conduto e os bolivianos fingem não saber de nada. Sabóia leva a oferta para Patriota que leva a oferta para Dilma. Ela aceita, o plano é executado. Ela finge que não sabe de nada e aproveita para se livrar do Patriota que aceita alegremente a promoção para New York onde, além de ganhar mais, vai se livrar da chefe gritona. Sabóia é afastado com vencimentos por tempo indeterminado e vai curtir suas férias em algum lugar aprazível do Brasil se livrando da altura desgastante de La Paz. Evo chia diplomaticamente mas na prática não faz nada porque já negociou alguma vantagem para a Bolívia. Todos felizes, pena que foi apenas um sonho que nada tem a ver com a realidade.

    ResponderExcluir
  3. Tem réu condenado do mensalão querendo dar o troco. Já anotaram o endereço da embaixada da Bolívia e Evo prometer ajudar. Claro que Dilma vai protestar veementemente.

    ResponderExcluir