terça-feira, 20 de agosto de 2013

É hora de aprofundar o modelo


Era para ser uma reunião tranquila, até animada. Assuntos estratégicos, vocês sabem (aprendi com o Mercadante a chamar tudo de “tático” ou “estratégico”, fica elegante).

Pois bem. Ocorre que nossa reação tática lá atrás, no calor dos protestos, não tinha funcionado bem, de sorte que, desta vez, estavam todos à flor da pele. Olho na porta. Ou simplesmente checando o blackberry.

Vale a pena relembrar aquela reunião tática do final de junho.


O João Santana, como de praxe, mostrou as palavras-chave que saem lá das pesquisas dele. No caso, “plebiscito”, “constituinte”, “pacto” e “investimento em mobilidade urbana”.

A presidenta não é de aceitar as coisas cegamente. “Prefiro pactos, no plural. Talvez uns quatro ou cinco”. Achei perspicaz.

O Palocci sugeriu incluir responsabilidade fiscal. “Não custa, né?”, disse a Dilma. “Custa nada, presidenta”, respondeu Palocci, sorrindo para o Arno.

Se o pronunciamento em cadeia nacional não saiu bem, não foi por falta de alerta. Hoje em dia, não basta colocar as palavras na boca da presidenta, sem ordem ou contexto (“quanto menos entenderem melhor”, diria o Zé). O discurso precisa fazer um mínimo de sentido, senão nada se aproveita. Deu no que deu.

Para piorar, o noticiário econômico anda um horror. Dólar lá em cima, economia parada, risco de inflação. A imprensa tradicional nem disfarça: a culpa agora é toda da política econômica! Coisas do jogo eleitoral, mas sempre tem gente fraca que se assusta.

É esse o contexto da reunião estratégica da semana passada. A ideia era alinhar um plano de ação: responder aos protestos, preparar 2014.

Cheguei um pouco atrasado e encontrei a Claudia Safatle esperando do lado de fora da sala.

Quando entrei, o Beluzzo tinha acabado de dizer que “... economista adora uma pajelança”. Não entendi. Raramente entendo o Beluzzo, mas aprecio muito. É como os livros do Salman Rushdie: tem que respeitar. Esse Beluzzo é estudadíssimo.

Na sequência, o Tombini disse que a falta de confiança preocupa. Não diga? Economista é assim: fala o óbvio sem oferecer solução.

O Tombini aliás sempre ameaça reclamar do gasto público, mas fala tão enrolado que ninguém entende. É tímido, eu acho. Veja o que ele perpetrou:

“O superávit primário estrutural deriva das trajetórias de superávit primário para 2013, conforme parâmetros estabelecidos na Lei de Diretrizes Orçamentárias 2013.”

No silêncio que se seguiu, eu disse: “Não podemos chamar de estruturante, em vez de estrutural?” Pensei que daria uma ideia de movimento, aquelas coisas do Luciano. Tombini piscou várias vezes e continuou mudo. Dilma me olhou tensa.

O Guido não larga mais aquela cara de menino contrariado. Disse que o fiscal está muito apertado, que não pode mais desonerar, que o caixa está no limite. Será que jogou a toalha? Estranhei. Na frente dos jornalistas, ele sorri e diz que a nova matriz econômica está a pleno vapor e a retomada é questão de tempo. Difícil de entender. O Guido anda indisposto com tudo e com todos.

A Graça estava lá, como se aquilo fosse hora de falar em reajuste de gasolina. Quando o Arno levantou a mão e disse “Tenho uma ideia”, a presidenta percebeu o beco sem saída da situação.

“Queridos, ideias concretas, please. Para recuperar a popularidade, fazer o país crescer, segurar o dólar, a inflação, a dívida pública... Fortalecer a Petrobras, aumentar o investimento, atrair o capital privado. Por onde começamos?"

São esses momentos, se me permitem, que justificam minha presença ao lado da presidenta. Sem assombro ou vaidade, quebrei novamente o silêncio: “É hora de aprofundar o modelo, presidenta! Diálogo! Persuasão! Mostrar ao povo que estamos do seu lado!”.

Não direi que a reação da mesa foi entusiasmada, mas pelo menos abri um caminho para encerrarmos a reunião. A própria Dilma emendou:

“Jaélio tem razão. Estamos no caminho certo e o país está ótimo. Vejo duas falhas comprometendo minha gestão: falta mais diálogo com os empresarios e com os políticos.”

Genial! Não mexe em nada. O momento é de recuperar conceitos, ampliar o diálogo e aprofundar o modelo. Rumo a 2014!

Alguém mandou a Claudia entrar.

5 comentários:

  1. Nossa Guia além de ilustrada é charmosa demais.

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Cuidado Jaélio,
    Esse cara da fotinho em branco em preto é um reaça canalha que dá plantão lá no blog do Scwartzman.... Um direitista fdp, vende patria salafrario..

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Confesso que no passado fechava meus olhos à genialidade de Nossa Guia, como um Judas mas com mais do que meras 30 moedas. Mas agora admito que estava errado e me rendi ao charme pessoal, eloqüência, inteligência desassoberbada e decência humana de nossa guia. Podes dizer que me desencanalhei.

      Excluir
  4. Genial as observações sobre a Claudia Safatle. Sempre tive certeza que ela trabalhava na sucursal Brasília do jornal. Fica mais perto.

    ResponderExcluir